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quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Fittipaldi pilota F-1 da Lotus de 2010 e confessa: 'É como viver de novo'

Campeão mundial em 1972 e 1974, brasileiro ouve dicas de pilotos novatos e embarca em um 'túnel do tempo' ao acelerar no circuito de Paul Ricard


Emerson Fittipaldi está de volta ao circuito de Paul Ricard, na França, para viajar no tempo. O bicampeão mundial de Fórmula 1 correu pela última vez nesta pista em 1974, ano de seu segundo título, a bordo de uma McLaren. O primeiro campeonato havia sido conquistado em 1972, com uma Lotus, carro que traz ótimas lembranças ao brasileiro. A equipe, que existiu até 1994, retornou à categoria recentemente. E esta volta proporcionou também um presente ao veterano, que representou as cores do time há quatro décadas: guiar um carro de 2010, bem mais moderno do que os modelos com os quais Fittipaldi faturou suas 14 vitórias na F-1.
Emerson parou de pilotar na F-1 em 1980. Desde então, os carros mudaram muito, até nas coisas mais básicas. Os motores eram bem menos potentes: tinham cerca de 480 cavalos, 300 a menos que os atuais; o cockpit era totalmente diferente; as marchas eram trocadas na alavanca, e não na borboleta atrás do volante, como hoje em dia. E o volante, além de mais pesado, era bem mais simples. Hoje tem mais ou menos 20 botões. Na época do Emerson, o cockpit só tinha um, para falar no rádio.

Emerson Fittipaldi Fórmula 1 Lotus Esporte Espetacular (Foto: Divulgação Circuito de Paul Ricard)
Campeão mundial em 1972 e 1974, o brasileiro Emerson Fittipaldi experimenta o cockpit de uma Lotus de 2010, pouco antes de acelerar o modelo na França (Foto: Divulgação Circuito de Paul Ricard)

- São sete marchas, na minha época não tinha, eram cinco. Hoje ele chega ao fim dessa reta em sétima e faz a curva em segunda. Acho que tem uma diferença: o piloto da minha época tinha que sentir o carro e dar muita informação para a equipe, e obviamentente não tinha ajuda do volante, que é muito mais leve. Fisicamente era muito mais pesado do que deve ser hoje – disse um ansioso Emerson, horas antes do teste com o carro de 2010, que foi guiado pelo polonês Robert Kubica naquela temporada.
Emerson diz que 'daria trabalho' com máquina do tempo
Atento, o bicampeão ouve as instruções do engenheiro da Lotus, Barry Mortimer. Afinal, todas estas evoluções modificaram completamente a maneira de guiar. No entanto, o brasileiro – que também faturou duas edições das 500 Milhas de Indianápolis correndo contra pilotos mais jovens na Fórmula Indy entre 1985 e 1996 – considera que um bom piloto se adapta a qualquer carro. No caso dos melhroes, a qualquer época.
- Eram qualidades diferentes dos que pilotam hoje em dia. Nao era pior ou melhor. Se pegar o Fernando Alonso, o Vettel e puser numa máquina do tempo para a minha época, eles iam dar trabalho, não ia ser facil. É que nem o Felipe Massa no GP da Inglaterra, aquela largada que ele deu, daquele jeito que ele vinha. Na minha época, ele estarialá junto com a gente. Os melhores do mundo, hoje em dia ou em qualquer época, andariam muito rápido. Se eu tivesse uma máquina do tempo pra comprar o melhores pilotos da Fórmula 1 – sonha o bicampeão, que em seguida confessa que estaria “dando trabalho” se guiasse hoje em dia.

Emerson Fittipaldi Fórmula 1 Lotus Esporte Espetacular (Foto: Divulgação Circuito de Paul Ricard)
O volante, com mais de 20 botões, é um dos principais desafios para um piloto que venceu 14 GPs sem qualquer ajuda eletrônica em seus carros (Foto: Divulgação Circuito de Paul Ricard)

Entre o novato e o veterano, os papéis se invertem quando Emerson, 66 anos, pega dicas com o italiano Davide Valsecchi, campeão de 2012 da GP2 – divisão de acesso da Fórmula 1.
- Eu tenho que aprender tudo de novo hoje. Está tão diferente a F-1 que eu tenho que aprender não só sobre o carro, com uma pressão aerodinâmica muito maior, mas toda a parte eletrônica, tudo que tem no volante. Eu acho que isso é um grande desafio hoje para um piloto.
Humildade para reaprender
E o respeitado senhor das pistas não tem medo ou orgulho de perguntar cada detalhe. Quer saber do aquecimento dos pneus, a pressão do pé sobre o pedal do freio. E quando Emerson poderia imaginar que, um dia, o filho do tetracampeão Alain Prost, Nicolas, estaria dando dicas a ele de como pilotar um carro de Fórmula 1? Para entender as trocas de marcha, o brasileiro anda primeiro junto de Valsecchi, 40 anos mais jovem. Ninguém tem muita certeza de como ele vai se sair. Mas Emmo não está preocupado.
- Eu precisava de um jato de detergente pra tirar a naftalina, o mofo... é muito tempo no armário – compara, às gargalhadas.

Emerson Fittipaldi Fórmula 1 Lotus Esporte Espetacular (Foto: Divulgação Circuito de Paul Ricard)
Após ouvir as dicas do campeão da GP2, Fittipaldi deixa os boxes (Foto: Divulgação Circuito de 
Paul Ricard)

Depois de tirar as medidas do cockpit e de ajustar o rádio, chega o grande momento. Emerson põe o capacete e parece voltar aos 25 anos de idade, idade com a qual se tornou o mais jovem campeão da história (recorde que durou 33 anos, até ser batido por Fernando Alonso em 2005). O túnel do tempo começa a funcionar. Basta o mecânico fazer o sinal e a Lotus deixa os boxes de forma cuidadosa. Emerson vai para a pista.
Busca pelo limite e gostinho de 'quero mais'
Ele tem pouco tempo, mas faz o motor da Lotus roncar para valer em Paul Ricard. Em dez minutos, faz uma volta oito segundos mais lenta que a do jovem Valsecchi. Quando o tricampeão Niki Lauda teve uma experiência parecida, aos 52 anos, ele foi 15 segundos mais lento que Mark Webber, e ainda rodou na pista. À vontade, Emerson pilota outra vez uma Lotus preta e dourada. A mesma marca, as mesmas cores do carro que lhe deu o primeiro título mundial. E aprova a sensação.
- Eu achei mais fácil pra chegar no limite, eu tenho que andar mais pra chegar no limite. O freio é impressionante. No fim da reta, perto da placa de cinquenta metros, o carro para. Porque as reações são muito mais rápidas e eficientes do que quando eu guiava, então tudo o que eu estava fazendo estava crescendo na velocidade, mas ainda abaixo do limite. O carro é espetacular pra guiar, muito bom – avalia.

Emerson Fittipaldi Fórmula 1 Lotus Esporte Espetacular (Foto: Divulgação Circuito de Paul Ricard)
Sorridente, Emerson resumiu a experiência: 'vou dormir feliz' (Foto: Divulgação Circuito de Paul Ricard)

Depois de destacar a parte técnica, é a vez de deixar a emoção falar. Descrever o dia em que Emerson Fittipaldi revisitou a sensação de acelerar no limite.
- Vou dormir muito feliz. Estou muito grato, com a idade que eu estou, em testar e andar num Fórmula 1 moderno. Quero mais! Eu senti como viver de novo... É a minha vida. Demais, demais... Vontade de voltar? Muita! Mas nao dá. Eu espero ter outra oportunidade pra chegar mais perto do limite. Foi muita adrenalina! – confessa o bicampeão.

Fonte: globoesporte.globo.com

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